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Celebrando a Consciência Negra

20, novembro, 2009

Por Walter Miranda *

O Brasil foi o último país da América a abolir oficialmente a escravidão. Segundo dados extra-oficiais, entre 1550 e 1850, data oficial do fim do tráfico de escravos, em torno de 3,6 milhões de africanos foram trazidos para o Brasil para serem explorados nas lavouras de cana e café. Trouxeram suas histórias, cultura, crenças, formas de expressão religiosa e artística, além de conhecimento próprio sobre técnicas de plantio e de produção agrícola. Infelizmente, vítimas da violência e a rigidez do regime de escravidão, não tiveram acesso à formação educacional.

Desde que chegaram ao Brasil, os africanos nunca aceitaram a condição de trabalho escravo. Fugiam e se organizavam em Quilombos, entendidos como sendo comunidades em meio às matas onde se agrupavam, formando comunidades isoladas das fazendas e cidades. Nessas comunidades viviam de acordo com sua cultura africana, plantando e produzindo alimentos e outros bens necessários a sua sobrevivência. Na época colonial, o Brasil chegou a ter centenas dessas comunidades espalhadas, principalmente, pelos estados das regiões nordeste, centro oeste e sudeste.

Em meio a esta quantidade de quilombos, houve um que, pelo caráter da organização política, incomodou os latifundiários e governantes da época. Localizava-se na Serra da Barriga, hoje município de União de Palmares, estado de Alagoas. Segundo dados extra-oficiais, o denominado Quilombo de Palmares sobreviveu a diversos ataques durante aproximadamente 100 anos. Foi ali que nasceu e foi aprisionado com poucos dias de vida num dos ataques ao Quilombo no ano de 1655, uma criança negra, entregue ao padre Antônio Melo em Porto Calvo, batizada com o nome de Francisco.

Francisco era muito inteligente e, favorecido pela admiração do padre, aos 10 anos já sabia português e latim. Aos 15 anos fugiu de volta para Palmares, onde adotou o nome de Zumbi e assumiu a liderança do Quilombo. Inconformado com a exploração dos africanos na condição de escravos, Zumbi organizou técnicas de guerrilha para atacar fazendas que tinham como atividade a monocultura da cana, cujo açúcar era exportado para Portugal, Inglaterra e outros paises europeus a preços baixos. Após os ataques libertava os africanos da senzala de cada fazenda.
No dia 20 de novembro de 1695, após muitas expedições patrocinadas por latifundiários e o governo de Pernambuco, Zumbi de Palmares foi assassinado. Seu corpo, perfurado por balas e punhaladas, foi levado a Porto Calvo, onde a cabeça foi decepada, enviada a Recife e espetada em um poste para exposição pública. Em várias cidades do Brasil o dia 20 de Novembro é feriado. Infelizmente o governo Lula até hoje não enviou projeto ao Congresso criando o feriado nacional. Penso que Zumbi de Palmares deve, a exemplo de Joaquim José da Silva Xavier (Tiradentes), ser inserido e respeitado como uma grande liderança política. Assim, se 21 de abril é feriado, por que o 20 de novembro não?

Após 314 anos da morte de Zumbi, a situação dos negros brasileiros, infelizmente, continua precária. O IBGE-Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, na Pesquisa Nacional de Emprego de março de 2009, ainda revela números assustadores. A renda média dos pretos e pardos cresceu de R$ 690,3 em 2003, para R$ 847,7 em 2009, enquanto a dos brancos subiu de R$ 1.443,3 para R$ 1.663,9. A pesquisa ainda revela a situação inferior em outros indicadores como moradia, emprego, educação, saúde etc.., demonstrando objetiva e incontestavelmente que a discriminação tem componente racial e de classe.

Entendemos que, diante dos indicadores demonstrados pela pesquisa do IBGE, neste dia 20 de novembro, oficialmente reconhecido no Brasil como o "Dia Nacional da Consciência Negra", é preciso refletir profundamente sobre o mérito da luta e morte do grande líder da comunidade negra brasileira, Zumbi de Palmares, injustamente assassinado pelos latifundiários e governantes da época na luta contra a exploração dos seres humanos africanos escravizados no Brasil. E buscarmos novas formas de Luta para continuarmos combatendo o racismo que ainda se abate sobre o Nosso Povo.
O Grupo de Reflexões "Auditores Negros e Negras", criado há pouco mais de um ano, tem entre seus objetivos divulgar atividades políticas, culturais, educacionais e sociais, envolvendo a comunidade negra em todo o Brasil, e também interagir com suas lutas por uma sociedade mais justa e igualitária, no campo de raça e classe. Para isso foi importante criarmos na estrutura do Sindifisco Nacional, a Diretoria de Políticas Sociais, através da qual todos os filiados poderão participar das discussões deste e outros temas afins.

Araraquara, 20 de Novembro de 2009
DIA NACIONAL DA CONSCIÊNCIA NEGRA

Walter Miranda e diretor de Política Sindical e Políticas Sociais da DS Araraquara e membro do Grupo de Reflexões "Auditores Negros e Negras" .

auditoresnegrosenegras@yahoogrupos.com.br

Este artigo reflete as opiniões do(s) autor(es), e não necessariamente da Delegacia Sindical do Ceará. Esta Delegacia Sindical não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizada pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.