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Criança não é de rua!

23, julho, 2008

Por Bernardo Rosemeyer

Essas crianças advêm de famílias paupérrimas, todavia nenhuma criança encontra-se nessa situação unicamente em virtude da pobreza dos pais!

Não há crianças de rua. Só há crianças maltrapilhas que não conseguiram mais permanecer junto a sua família e foram à rua em busca de um lugar para morar. Essas crianças advêm de famílias paupérrimas, todavia nenhuma criança encontra-se nessa situação unicamente em virtude da pobreza dos pais! Se fosse assim, no Brasil realmente teríamos milhões de crianças morando nas ruas. Estima-se que o universo infanto-juvenil em situação de moradia na rua contabiliza algo em torno de uns 25.000 no Brasil inteiro. É só uma estimativa grosseira baseada em pesquisas pontuais e deduções, pois até a ONU vem criticando o Brasil quanto à ausência inacreditável de um monitoramento da quantidade das crianças e adolescentes que vivem e moram nas ruas. Avançamos quanto ao atendimento de outros segmentos infanto-juvenis em situação de risco. Quanto à criança que mora na rua, as nossas ações continuam mais que tíbias.

A Campanha Nacional "Criança Não é de Rua" foi lançada por mim no Senado Federal em 2005. Percorremos desde então 17 estados brasileiros, debatemos e formatamos propostas concretas. Centenas de entidades que desenvolvem um trabalho em prol da criança e adolescente sob epígrafe aderiram à Campanha. Hoje, no dia em que a Chacina da Candelária completa 15 anos, irá realizar-se o seminário de lançamento da Campanha Nacional em Fortaleza na presença dos candidatos à prefeitura.

Como enfrentar a questão em nível nacional: Em primeiro lugar temos que garantir a presença de educadores sociais no espaço da rua. Mas nada feito se esse profissional não dispõe de alternativas à vida na rua para as crianças e adolescentes. Urge, portanto, um investimento de peso no âmbito de uma política preferencial para as famílias que têm filhos ou filhas que moram nas ruas para engendrar uma melhoria substancial nas condições de vida e garantir o retorno da criança e do adolescente a sua referência familiar. Constatado, porém, que o retorno à família não é possível, para a criança moradora de rua, uma política de acolhimento é imprescindível. Denunciamos que no Brasil há poucas entidades capazes de acolher crianças que se encontram em situação de moradia na rua! Não dá para entender uma vez que o investimento não é tão alto comparado com os gastos de reclusão de um adolescente infrator que é em torno de R$ 4.000,00 por mês!

Eu gostaria que daqui a alguns anos as pessoas ficassem admiradas ao ouvir que antigamente, ainda no ano de 2008, havia nas cidades grandes crianças abandonadas, sujas e esfarrapadas, de olhos tristes e cansados e dormindo agachadas em cima de um pedaço de papelão e cobertos por sua camiseta de tamanho GG, afogando seus sonhos num saquinho repleto de cola de sapateiro.

Bernardo Rosemeyer
Coordenador Geral da Campanha Nacional Criança Não é de Rua

Artigo publicado no Jornal O Povo - CE dia 23 de julho de 2008.

Visite também o Site da Campanha: www.criancanaoederua.org.br