Envie para um amigo



Fale com a Diretoria

Tem alguma dúvida? Precisa saber sobre alguma demanda como filiado? Quer contribuir com sugestões, ideias ou críticas?

Envie uma mensagem para a DS Ceará. Queremos ouvir você!




Cinema é (mais que) a maior diversão - coluna nº 3

24, outubro, 2008

O DIRETOR DA SEMANA: Wim Wenders (Düsseldorf, Alemanha, 1945)

“Quanto mais velho eu fico, menos eu acredito em fórmulas”.

Grande atração da 32ª Mostra de Cinema de São Paulo ora em curso, o cineasta alemão Ernst Wilhelm Wenders, ou simplesmente, Wim Wenders, nasceu em Düsseldorf, Alemanha, em 1945 e, além de diretor, fotógrafo e professor universitário, é presidente da Academia do Cinema Europeu, sendo considerado um dos pais do chamado “novo cinema alemão” surgido na década de 1970.

Antes de se dedicar ao cinema, Wim Wenders estudou filosofia e medicina na Universidade de Freiburg, também na Alemanha, o que proporcionou uma sólida base intelectual para a sua carreira de cineasta.

Começou a se destacar com “O Medo do Goleiro Diante do Pênalti” (1971), seguido dos longas “O Amigo Americano” (1977) - com o qual ganhou fama internacional -, “Hammett” (1982), “O Estado das Coisas” (1982) e “Tokyo-Ga” (1984). Recebeu uma indicação ao Oscar de Melhor Documentário, por “Buena Vista Social Club” (2000), uma justa homenagem aos grandes músicos cubanos, resgatando-os do quase anonimato decorrente do bloqueio econômico - e cultural - imposto há quase cinqüenta anos ao país centro-americano.

Foi premiado diversas vezes nas categorias de melhor diretor, ou de melhor filme. Urso de Prata no Festival de Berlim, por “O Hotel de Um Milhão de Dólares” (2000), prêmio de Melhor Diretor no Festival de Cannes, por “Asas do Desejo” (1987), e Leão de Ouro no Festival de Veneza, por “O Estado das Coisas” (1982), são alguns de muitos outros reconhecimentos na carreira do diretor.

O cinema de Wenders revela um olhar estrangeiro sobre o mundo. Seus personagens vivem em trânsito, com trajetória incerta, distanciados de tudo e em constante crise existencial. A precariedade do moderno e da existência virou seus temas dominantes.

Apesar de ter se tornado parte da indústria cinematográfica, ele sempre procurou fazer um cinema de autor, como nos tempos da nouvelle vague, o que às vezes lhe valeu o rótulo de ingênuo. Com “Paris, Texas” (1984), ele fez seu trabalho mais popular e ganhou a Palma de Ouro em Cannes. O filme é uma combinação de boas escolhas, a começar pelo elenco, que traz Nastassja Kinski em sua melhor forma. Em 1987, Wenders finalizou o poético “Asas do Desejo”, sobre anjos que observam a desordem afetiva e material dos habitantes de Berlim. No filme, Wenders derrubou não o muro que separou as duas Alemanhas, mas procurou uma espécie de língua comum para uma certa ordem celestial e o mundo terrestre. Depois, fez a continuação da história: “Tão Longe, Tão Perto” (1993).

Com “Até o Fim do Mundo” (1991), Wenders realizou um projeto de muitos anos, mas não foi bem recebido pela crítica, partindo depois para “O Céu de Lisboa” (1995), quando escrevia o roteiro à noite, junto com a mulher, Donata, e rodava no dia seguinte. Feito em Portugal, o filme retoma o fascínio de Wenders por Lisboa (destaque para a música do excelente grupo Madredeus, que não só participa da trilha sonora, como seus membros são figurantes da trama e aparecem em cenas de ensaio preparatório para uma tournée internacional).

Em seguida, junto com Michelangelo Antonioni, Wenders participou das filmagens de “Além das Nuvens” (1995), mas diz que não se sente autor do filme, talvez por ter funcionado apenas como assistente do mestre recentemente falecido.

Seu trabalho mais recente, com lançamento nacional na Mostra de São Paulo, é “Palermo Shooting” (2008), cujo tema é a morte; a gente fica torcendo que “pinte” logo por aqui, ou que seja brevemente lançado em dvd.

O TEMA DA SEMANA: A CRIANÇA

Tema dos mais recorrentes na história do cinema, roteiros envolvendo crianças e adolescentes têm perpassado a filmografia de inúmeros cineastas, em sua maioria explorando o apelo emocional que o assunto encerra, visando, basicamente, o retorno do investimento, típico do cinema meramente comercial.

Bem mais que isso, interessa-nos o cinema como expressão artística que, sem deixar de tocar em nossos sentimentos - muitas vezes fazendo rolar uma indiscreta lágrima em rostos barbudos, imperceptível no “escurinho do cinema” -, analisa o universo infantil e juvenil de uma forma profunda e sensível, denunciando situações de opressão, injustiça, exploração ou sofrimento, tendo como vítimas as nossas crianças, ou simplesmente, contando histórias de vida, muitas vezes inspiradas na experiência pessoal do diretor ou do roteirista.

Outras vezes, o cineasta apenas utiliza os personagens infantis como pano de fundo para falar sobre determinados momentos históricos, como, por exemplo, em “Adeus Meninos” (França, 1987), de Louis Malle, “A Língua das Mariposas” (Espanha, 1999), de José Luis Cuerda, “Machuca” (Espanha, 2004), de Andrés Wood, “Pequenas Flores Vermelhas” (China, 2006), de Zhang Yuan e “O Tambor” (Polônia, Iuguslávia, França, Alemanha, 1979), de Volker Schlondorff.

Vejam “Crianças Invisíveis” (Itália, 2005), uma coletânea de curtas-metragem de consagrados cineastas (Emir Kusturica, Spike Lee e John Woo, entre outros), que passeiam pela temática infantil com rara sensibilidade; o Brasil se acha representado em um curta assinado por Kátia Lund, com a encantadora história de um casal de crianças que sobrevive na grande cidade catando material de reciclagem nas ruas de São Paulo.

A lista é imensa e comportaria diversas páginas apenas relacionando títulos de qualidade, alguns essenciais ao cinéfilo exigente. Fiquemos, então, com “O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias” (Brasil, 2005), de Cao Hamburger, “Billy Elliot” (Inglaterra, 2000), de Stephen Daldry, “A Cor do Paraíso” (Irã, 2003), de Majid Majidi, “Fanny e Alexander” (Suécia, França, Alemanha, 1982), de Ingmar Bergman, “Kolya, Uma História de Amor” (República Tcheca, 1996), de Jan Sverak, “O Ladrão” (França, Rússia, 1997), de Pavel Chukhraj, “O Milagre de Berna” (Alemanha, 2003), de Sönke Wortmann, “Minha Vida de Cachorro” (Suécia, 1985), de Lasse Hallström, “Minha Vida Sem Minhas Mães” (Finlândia, Suécia, 2005), de Klaus Häro, “Ninguém Pode Saber” (Japão, 2004), de Hirokazu Koreeda, “Pelle, o Conquistador” (Dinamarca, Suécia, 1988), de Bille August, “O Pequeno Italiano” (Rússia, 2004), de Andrei Kravchuk, “Prefiro o Barulho do Mar” (Itália, 2000), de Mimmo Calopresti, “Querido Frankie” (Inglaterra, 2004), de Shona Auerbach, “Tartarugas Podem Voar” (França, Irã, Iraque, 2004), de Bahman Ghobadi, “Valentin” (Argentina, Espanha, França, Holanda, Itália, 2002), de Alejandro Agresti e “Vermelho Como o Céu” (Itália, 2006), de Cristiano Bortone. A maioria se acha disponível nas locadoras da cidade e freqüentemente compõe a programação dos canais especializados de TV por assinatura.

O FILME DA SEMANA: ROSALIE VAI ÀS COMPRAS (Alemanha/EUA, 1989)

Embora um tanto quanto datada, essa comédia do diretor alemão Percy Adlon traz em seu bojo uma ácida crítica ao consumismo exacerbado da sociedade capitalista, principalmente da classe média que vive em permanente busca da felicidade por intermédio das compras de quinquilharias ofertadas nos centros comerciais, nos canais de televisão tipo Shoptime e nos sítios de vendas da rede de computadores.

No filme, a impagável atriz Marianne Sägebrecht (de “Bagdá Café” e “Estação Doçura”, do mesmo diretor), protagoniza uma dona-de-casa que administra o lar com o uso de seus cartões de crédito, fazendo verdadeiros malabarismos de planejamento com o orçamento doméstico, para encaixá-lo no calendário de vencimentos das faturas. Enquanto isso, os demais membros da família passam horas na frente da TV e sabem de cor todos os textos dos anúncios veiculados.

À medida que o nível de consumo aumenta e as contas deixam de “fechar”, Rosalie passa a sofisticar a administração financeira da casa, não se importando em adotar métodos desonestos para a manutenção da “felicidade” da família, chegando a falsificar cartões e cheques, para desespero de seu confessor. São hilárias as confissões de seus deslizes ao pároco de sua igreja.

A história tem um final surpreendente e, apesar de enfatizar o tema do consumismo, apresenta situações de grande lirismo envolvendo a afetividade na família de Rosalie. Vale a pena conferir.

O tema é bastante atual, pois a explosão do consumo “gazeado à prestação” (como diria Tom Zé, em “São Paulo, mon amour”), tem tudo a ver com a maior crise do sistema capitalista dos últimos tempos; a propósito, sugiro a leitura de dois recentes artigos versando sobre as angústias do homem moderno na sociedade de consumo: o primeiro, de Eduardo Galeano (“O Império do Consumo”), e o outro, do nosso Frei Betto (“Somos todos pós-modernos?”), que podem ser acessados nos seguintes endereços eletrônicos:

Luis Nóbrega (nobregaluis@ig.com.br)

A OBRA-PRIMA DA SEMANA: AS TRÊS GRAÇAS (1814 - 1817), DE ANTONIO CANOVA