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Editorial - Brasil, urgente: o povo, presidente

20, junho, 2013

“Como reagiria o Governador eleito às promessas do candidato?”, pensa o personagem Paulo Martins, em Eldorado, o país fictício na trama complexa de “Terra em transe”, do genial Glauber Rocha. Lá como cá, em 1967 ou em 2013, assim como nos incontáveis momentos de impasse da nossa construção tantas vezes interrompida, sempre se ansiou que o povo brasileiro tomasse, por fim, as rédeas do seu destino, que caminhássemos para a nossa emancipação e, consequentemente, para um projeto nacional realmente voltado para erradicação da desigualdade, marca trágica da nossa formação, e para um processo de desenvolvimento substantivo, não só representado em incremento do produto, mas em bem estar social efetivo para as maiorias.

Depois de um hiato de mais de vinte anos, desde a deposição de Collor, pelo menos, passando por todo o desmanche da era de hegemonia do neoliberalismo, vemos, finalmente, instaurar-se a soberania popular, na ágora das ruas, a partir do rastilho inicial de um singelo movimento por passe livre.

Singelo? Nem tanto. Com a sabedoria prática e direta que só pode ser proporcionada por centenas de milhares de pessoas nas ruas, a partir de uma questão alusiva ao cotidiano sofrido de milhões de pessoas nas grandes metrópoles – a mobilidade urbana ou a violação do direito à cidade - o povo desconstruiu todo o teatro da representação política e dos vícios da vida pública, do qual se pode citar, sem ordem hierárquica: o questionamento da destinação do orçamento e das conseqüentes políticas públicas (“Quantas escolas cabem num estádio de futebol?”, dizia um cartaz), a crise da representação política (pois as ruas e praças foram ocupadas à revelia dos Partidos políticos e – vejam só! – dos sindicatos), a animosidade em relação aos grandes conglomerados de comunicação e, por fim, sem a pretensão de ser exaustivo, o resíduo da ditadura, totalmente extemporâneo, de termos ainda, inaceitavelmente, uma força pública que é militar.

Os fatos estão muito dinâmicos, por ocasião desse quinto dia em que os organizadores do Movimento pelo Passe Livre, a partir do seu foco irradiador inicial, em São Paulo, contagiaram todo o país e não há clareza de qual será a evolução dos fatos. Independentemente do que esteja por vir, entretanto, não há dúvida de que essa portentosa manifestação de soberania popular rearranja a política brasileira, a pouco mais de um ano de um novo ciclo eleitoral.

Novamente sem a pretensão de esgotar a abordagem dessa inesperada irrupção popular, podem-se arriscar algumas indicações preliminares e precárias.

A História saudavelmente abre-se mais uma vez, o que nos traz esperanças de arejamento das instituições, contra o determinismo, a inflexibilidade e o “discurso único” dos mercados. E reabre-se a História, ressalte-se, pelas mãos da juventude, o que duplica e semeia esperanças, pois uma práxis política fundada no primado dos espaços públicos – contra a privatização do Estado, das políticas sociais, dos equipamentos urbanos, contra a mercantilização dos bens essenciais à vida – forma e configura toda uma nova geração com potencial para renovar a nossa vida social e política.

Toda a nossa vida pública, no âmbito do Estado, dos Partidos, mas também nos Sindicatos, deve-se abrir para uma revisão das práticas e da amplitude democráticas, considerando que nem sempre a democracia formal, transformada num ritual vazio e protocolar, pode estar atendendo aos princípios da transparência, da participação, da prestação de contas, da fiel e comprometida representação política. O alheamento dos movimentos sindicais à mobilização popular que tomou as ruas do país nos últimos dias abre claros sinais de alerta para um processo de burocratização e entorpecimento das entidades sindicais que demanda reflexão de todos aqueles que se preocupam com os vasos comunicantes que devem existir permanentemente entre as reivindicações específicas e as aspirações maiores da sociedade.

Se nos aferrarmos e nos inspirarmos pela tradição de lutas sindicais e sociais das quais nós, Auditores-fiscais, somos herdeiros, pelas duas Entidades que nos antecederam, nada temos a temer.

Pois o povo pede passagem (mais barata).