Polícia Federal diz que Cachoeira usava servidores da Receita para contrabando
2, abril, 2012Matéria publicada ontem (1º/4) no Jornal Folha de São Paulo dá conta de investigações da Polícia Federal que revelam o envolvimento de servidores da RFB e da Infraero com o contrabando de mercadorias para o grupo de Carlos Cachoeira. Confira abaixo a matéria completa.
Cachoeira usava servidores para contrabando, afirma PF
Gravações feitas pela Polícia Federal revelam que o grupo do empresário Carlos Cachoeira utilizou servidores da Infraero e da Receita Federal para obter facilidades na entrada e saída de mercadorias contrabandeadas no aeroporto de Brasília.
Preso desde o dia 29 de fevereiro, Cachoeira é acusado de comandar um esquema ilegal de jogos caça-níquel.
Um dos citados nos diálogos é Raimundo Costa Ferreira Neto, servidor da Infraero (estatal que administra aeroportos) com sala no terminal.
O outro é Wagner Wilson de Castro, inspetor-chefe da Alfândega da Receita em Brasília, chamado durante a madrugada para liberar malas do grupo de Cachoeira.
Segundo a investigação da PF, o servidor da Infraero, chamado de Ferreirinha, "tem como função facilitar a chegada de material contrabandeado/descaminhado" do grupo de Cachoeira.
Seu telefone foi monitorado, com autorização judicial. Numa conversa em 4 de janeiro de 2011, Cachoeira estava em Miami e acertou com o sargento da Aeronáutica Idalberto Matias, o Dadá, a volta ao Brasil, por Brasília.
Apontado no inquérito como o araponga do grupo, Dadá informou a Cachoeira que iria procurar Ferreirinha.
Minutos depois, Dadá volta a falar com Cachoeira e avisa: "Ele falou que pode vir aqui por Brasília."
Oito dias depois, Dadá e Cachoeira discutem a chegada a Brasília de outras pessoas do grupo e acertam o número de malas e a roupa de um deles para passar pela fiscalização: uma camisa roxa.
Em outra gravação, uma pessoa não identificada orientou Dadá sobre como evitar a fiscalização: "Se titubear, mandam entrar".
Dadá ligou para Cachoeira da sala do funcionário da Infraero. "Cheguei agora aqui na sala do Ferreirinha, tô com ele aqui." E repassou pedido do servidor: "Ele só tá cobrando o uísque dele". Cachoeira responde: "Tá bom, vou dar".
O chefe da Alfândega da Receita no aeroporto, Wagner de Castro, não foi monitorado, mas é citado como alguém que teria ajudado o grupo.
Numa noite, foi chamado para solucionar impasse envolvendo malas de Cláudio Abreu, diretor da Delta Construção e denunciado pelo Ministério Público Federal.
Num diálogo, Dadá disse que o servidor da Receita foi "solícito". Em outro, o dono da Delta afirma que visitaria Castro para "agradecer a cortesia" e "levar uma agenda".
OUTRO LADO
Funcionários de Receita e Infraero negam acusações
O servidor da Infraero Raimundo Costa Ferreira Neto e o inspetor-chefe da Alfândega da Receita em Brasília, Wagner Wilson de Castro, admitiram conhecer os investigados pela polícia, mas negaram qualquer irregularidade.
Ferreira disse que conhece o sargento Idalberto Matias, mas que jamais teve contato com Carlinhos Cachoeira.
"Quem controla a alfândega é a Receita", disse.
Segundo Ferreira, ele atendeu -uma única vez- um pedido de Dadá para ajudar um grupo de pessoas que vinha do exterior. "Pediu apoio para o carro ficar mais perto no estacionamento e pegar bagagem, como já fiz com outras pessoas também."
O servidor negou ter pedido um uísque de presente.
Já o chefe da Receita disse conhecer pessoalmente Dadá e Cláudio Abreu, da Delta Construção, mas que jamais concedeu facilidades a eles.
Sobre o caso em que foi chamado para liberar malas de madrugada, disse que não houve irregularidade.
Segundo ele, havia uma suspeita da PF envolvendo Cláudio Abreu e um grupo que havia chegado de viagem e estacionado duas camionetes numa área restrita. "Até este momento não conhecia o Cláudio Abreu", afirmou.
"A bagagem foi toda aberta e não tinham nada além da cota. Resolvi um impasse."
O advogado de Cachoeira, Márcio Thomáz Bastos, preferiu não se manifestar.
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