Previdência Complementar: Queda dos juros provoca adiamento de aposentadorias
6, junho, 2012O jornal Folha de São Paulo publicou, em sua edição de segunda-feira (4/6), matérias em que tratam dos efeitos que a queda dos juros brasileiros representam no adiamento da aposentadoria, em se tratando de planos de previdência complementar, como é o caso, por exemplo, do recém criado Funpresp. Confira aqui os textos.
JURO BAIXO E CUSTO ALTO ADIAM PLANO DE PREVIDÊNCIA PRIVADA
No menor patamar da história, os juros brasileiros podem ter como efeito colateral o adiamento da aposentadoria, especialmente para quem tem plano de previdência privada com taxas elevadas de administração - percentual cobrado pelo banco para cuidar do dinheiro do cliente.
Somente a mudança no patamar de juros ocorrida neste ano, quando as taxas do governo caíram de 11% para 8,5% ao ano, pode implicar mais de 15 anos de trabalho (e de contribuições extras ao plano de previdência), segundo simulação feita por Rafael Paschoarelli, professor de finanças da USP (ver pág. B4).
Isso porque os juros do governo caíram, mas a previsão de inflação segue elevada.
Na previdência privada, o que conta são os juros reais, que desconta a inflação. Em janeiro, a taxa real estava em 5,5% (11% da Selic menos 5,5% da inflação). Agora, caiu para 3,5% (8,5% menos 5%).
Desse rendimento real, deve-se descontar ainda a taxa de administração cobrada pelo banco. A maioria cobra entre 1% e 1,5% ao ano nos fundos conservadores que aplicam em juros do governo.
UMA DÉCADA E MEIA
Na simulação, Paschoarelli considerou o caso de um profissional de classe média, na casa de 30 anos, que já tenha acumulado R$ 100 mil na previdência privada e planeja fazer aportes mensais de R$ 1.000 pelos próximos 25 anos.
No começo do ano, essa pessoa poderia se dar ao luxo de ter um fundo de previdência com taxa de administração de 1,5% (cobrada pela maioria dos bancos) e ainda juntar o suficiente para completar a renda do INSS com R$ 3.670,13 por mês durante 30 anos após se aposentar.
Agora, esse profissional terá de trabalhar mais 197 meses (16,4 anos) para receber o mesmo valor daqui a 25 anos, se contentar com somente R$ 2.035 mensais ou elevar a contribuição mensal de R$ 1.000 para R$ 2.145.
E isso já contando que a inflação deve recuar um pouco nos próximos anos, para permitir uma taxa real média de 3,5% ao longo desses 25 anos.
"Isso é uma tragédia para essa pessoa. Ela não terá saída além de compensar a queda nos juros com uma taxa de administração consideravelmente menor. Ou vai ter de assumir um risco maior na Bolsa para elevar o ganho."
Na avaliação do professor, a discussão sobre o impacto das taxas de administração, que ganhou força depois da alteração da poupança, ainda não chegou à previdência privada como deveria.
"Está em jogo a aposentadoria de várias gerações, que não terão como se custear."
PREVIDÊNCIA VAI TER DE DIVERSIFICAR COM MAIS RENDA VARIÁVEL
Para pagar o benefício prometido aos segurados, os fundos de previdência privada deverão investir em ações a ponto de se tornarem os maiores investidores da Bolsa nos próximos anos.
Também deverão aplicar em imóveis, fundos imobiliários, títulos de dívida privada e moedas, entre outros investimentos de renda variável, para compensar os juros baixos e se protegerem dos solavancos da inflação.
Hoje, 80% do patrimônio dos fundos de previdência privada está em renda fixa, segundo estimativa de Osvaldo Nascimento, vice-presidente da Federação Nacional de Previdência Privada (Fenaprevi). Os fundos de previdência mais arrojados podem investir até 49% de seu patrimônio em renda variável. Os mais populares quase não têm aplicação de risco.
"Antes, não havia necessidade de correr risco porque o juro era alto. O cidadão agora começa a analisar seu perfil de risco, percebe as vantagens tributárias e observa como estão seus investimentos. Haverá um grande movimento para planos de maior risco", diz Nascimento.
"Os juros baixos trazem desafios para todos. O capital vai buscar mais retorno, e rentabilidade maior significa mais risco. Isso ocorreu em quase todos os países", diz Augusto Braúna Pinheiro, diretor financeiro da Brasilprev.
A indústria de previdência privada administra, hoje, cerca de R$ 300 bilhões dos segurados. Até 2020, deve passar de R$ 1 trilhão.
TAXA DE ADMINISTRAÇÃO
Os gestores afirmam que os juros baixos deverão pressionar os fundos de previdência a reduzir as taxas de administração, a exemplo do que ocorre com os fundos.
Além das taxas de administração, a expectativa é que o próprio governo seja levado, nos próximos anos, a rever os tributos associados à previdência privada.
As alíquotas atuais tornam proibitivos os investimentos feitos com um horizonte de menos de dez anos.
De acordo com Nascimento, não é verdade que os fundos de previdência brasileiros têm taxas de administração muito superiores às dos demais países.
Segundo ele, a maior diferença é que a maior parte dos fundos estrangeiros trabalha com porcentagem maior de renda variável.
Nascimento lembra que, diferentemente de outros segmentos, a portabilidade funciona na previdência, especialmente entre os clientes que já têm um patrimônio razoável acumulado.
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