Indio Tupi comenta greve dos servidores
21, agosto, 2012Comentário do Indio Tupi no texto sobre o editorial da Folha apoiando o governo Dilma contra a greve dos servidores:
Aqui do Alto Xingu, os índios gostariam que, ao invés de investir contra a luta dos trabalhadores dos serviços públicos, como é o caso, agora, a Folha de São Paulo, assim como os órgãos da midia financeirizada, abordassem problemas muito mais candentes e escandalosos como a evasão fiscal e a fuga de capitais da super-elite brasileira escondida em paraísos fiscais.
Apenas com os rendimentos desses recursos não informados e escondidos em paraísos fiscais, caso fossem recuperados e tributados, poderiam ser pagos melhores salários para funcionários públicos nos três níveis, com benefícios indiretos para toda a economia, inclusive para os demais assalariados do setor privado.
Segundo estudos da “tax justice network”, divulgados em julho passado, de autoria de James Henry, ex-economista-chefe da McKinsey, a super-elite brasileira tem US$ 520 bilhões mantidos em paraísos fiscais — equivalentes a 1/4 do PIB brasileiro –, o quarto maior volume de recursos no mundo, atrás apenas de China (US$ 1,18 trilhões), Rússia (US$ 798 bilhões) e Coreia do Sul (779 bilhões).
Caso esses recursos fossem reapropriados pelo Tesouro e aplicados a uma taxa de 3%, ensejariam rendimentos anuais de US$ 15,6 bilhões, ou seja, em moeda nacional o valor de R$ 31,2 bilhões, cifra mais do que suficiente para assegurar o reajuste de todo o funcionalismo público ou, alternativamente, para ser aplicado em saúde, educação, saneamento básico ou moradias populares.
Essa gigantesca evasão de capital mostra que todos os estudos até hoje eleborados sobre a desigualdade da renda no Brasil subestimaram o grau da disparidade da distribuição. Ou seja, se já sabíamos que a desigualdade na distribuição da renda no País é uma das piores do mundo — apesar das melhorias registradas nos últimos 10 anos — essa desigualdade é ainda muito maior, pois os estudos não incluíram na avaliação essa gigantesca montanha de recursos evadidos nas tabelas de distribuição de renda.
Em 2010, cerca de 10 milhões de milionários do mundo tinham entre US$ 21 trilhões e US$ 32 trilhões depositados em mais de 80 centros financeiros “offshores” — eufemismo para os conhecidos paraísos fiscais. Somente 100 mil pessoas em todo o mundo, que formam uma elite financeira global, respondem por US$ 9,8 trilhões desse total.
Esses estudos estimaram conservadoramente o valor do sistema que constitui enorme ‘buraco negro’ em expansão da economia mundial, um vasto volume de recursos evadidos e fora de quaisquer tributações.
Essas estimativas são conservadoras porque nesse volume estonteante de recursos não estão incluídas as propriedades imobiliárias, os iates, os aviões, os helicópteros, os navios e outros ativos não-financeiros.
50 megabancos privados administram para seus clientes US$ 12,1 trilhões entre as fronteiras dos países, acima dos US$ 5,4 trilhões em 2005, o que representa uma taxa anual de crescimento de 16%, mais de quatro vezes a taxa de crescimento da economia mundial no período, o que equivale a uma verdadeira predação financeira dos países, naquilo que é conhecido hoje como “o sistema bancário pirata”.
Se esses não informados US$ 21 trilhões e US$ 32 trilhões, conservadoramente informados, auferissem modesta taxa de retorno de apenas 3% a.a., e se essa renda fosse tributada em 30%, isso ensejaria receita de imposto de renda entre US$ 190 bilhões e US$ 280 bilhões, cerca de duas vezes o montante que os 29 países avançados da OCDE dispendiam, em 2010, em ajuda ao desenvolvimento. Impostos sobre a herança, ganhos de capital e de outras naturezas aumentariam essa receita significativamente.
Como o subgrupo de 139 países, a maioria de baixa-média renda, responde por dívida externa de US$ 4,1 trilhões, se considerarmos suas reservas internacionais e os depósitos não registrados em paraísos fiscais, eles se tornariam credores de algo entre US$ 10,1 trilhões e US$ 13,1 trilhões. Infelizmente, seus ativos são detidos por poucos super-ricos, enquanto suas dívidas externas são suportadas pelo povo comum através dos respectivos governos.
A categoria dos “poucos felizardos”, cerca de 91.186 mil pessoas (0,001% de toda a população mundial), detêm mais de 30 bilhões, os “apenas ricos”, ou seja, 839.020 pessoas (0,001%, idem), detêm entre US$ 5 bilhões e US$ 30 bilhões, os “parcamente ricos”, 8.419.794 pessoas (0,13%, idem), detêm entre US$ 1 bilhão e US$ 5 bilhões, formando a categoria da “elite global”, de 9.350.000 pessoas (0,14% do total), com riqueza não informada acima de US$ 1 bilhão. O restante da população do mundo, de 6.643.853.592 pessoas, ou 99,86% do total, não tinha um centavo de dólar em paraísos fiscais.
Esse gigantesco conjunto de recursos pilhados do mundo inteiro e mantido em mais de 80 paraísos fiscais ao redor do planeta configura um “verdadeiro buraco negro” do sistema capitalista, onde o “sistema bancário pirata”, com sua profusão de instituições financeiras, esconde fabulosa fortuna pilhada de municípios, cidades, estados, países, regiões e continentes, numa rapina de fazer corar os piratas e os corsários do passado, tudo sob as barbas da mídia financeirizada, que não atribui à matéria qualquer singela importância, para não falar dos Ministérios Públicos, de Juízes e do aparelho judicial e policial em escala global.
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